Bactérias do bem: como o intestino pode ajudar a controlar o diabetes
A ciência mostra que o Lactiplantibacillus plantarum, um probiótico natural, pode equilibrar a glicose e melhorar o bem-estar.
ALIMENTAÇÃO
5/8/20243 min ler


Lactiplantibacillus plantarum
Um probiótico promissor no controle do diabetes
Quando pensamos em estratégias para cuidar do diabetes, geralmente lembramos da alimentação equilibrada, do exercício físico e do uso adequado dos medicamentos. No entanto, um campo fascinante da ciência vem ganhando espaço: o papel dos microrganismos intestinais na regulação metabólica.
O estudo “Lactiplantibacillus plantarum como probiótico antidiabético”, publicado por Sariyanti et al. (2025) na revista Food Bioscience da Elsevier, chama a atenção para o potencial dessa bactéria como aliada no controle da glicemia e na melhora da sensibilidade à insulina. A pesquisa investiga os mecanismos pelos quais o Lactiplantibacillus plantarum pode atuar como um modulador metabólico e anti-inflamatório, com resultados promissores para o manejo do diabetes.
O que o estudo demonstrou?
Os autores observaram que o L. plantarum apresenta capacidade de influenciar positivamente o metabolismo da glicose por meio de diferentes vias. Entre os mecanismos propostos, destacam-se a modulação da microbiota intestinal, a ação antioxidante e a inibição de enzimas digestoras de carboidratos.
A literatura científica já havia apontado que o L. plantarum, encontrado naturalmente em alimentos fermentados e no intestino humano, possui boa tolerância e segurança para consumo (Zhou et al., 2024). Estudos recentes sugerem que ele favorece a integridade da barreira intestinal e reduz a translocação de lipopolissacarídeos, moléculas associadas à inflamação sistêmica e à resistência insulínica (Kim et al., 2023).
Outro aspecto relevante é a ação antioxidante. Segundo Zhang et al. (2023), o L. plantarum ajuda a reduzir o estresse oxidativo, protegendo as células pancreáticas e atenuando processos inflamatórios. Além disso, há evidências de que seus metabólitos podem inibir as enzimas α-amilase e α-glicosidase, retardando a absorção de glicose e, consequentemente, suavizando os picos pós-prandiais (Nguyen et al., 2022).
Em modelos animais, a suplementação com L. plantarum demonstrou ainda melhorar a sinalização da insulina, modulando vias como PI3K/AKT e reduzindo a ativação de NF-κB, um importante mediador da inflamação (Li et al., 2023).
Limitações e perspectivas
Apesar do entusiasmo, os autores ressaltam que grande parte das evidências ainda é vem de estudos experimentais. Ensaios clínicos com humanos são limitados e, quando existentes, utilizam cepas diferentes, o que dificulta a padronização dos resultados (Martins et al., 2024).
Além disso, a resposta aos probióticos é altamente individual, variando conforme o perfil da microbiota e o estilo de vida do paciente. Por isso, o L. plantarum não deve ser visto como substituto de tratamentos médicos convencionais, mas como uma possível ferramenta complementar, a ser avaliada caso a caso e sempre sob acompanhamento profissional.
Aplicações práticas
Mesmo sem recomendações clínicas formais, o estudo abre caminho para novas estratégias nutricionais que valorizam o equilíbrio intestinal. Alimentos fermentados, como iogurtes com culturas vivas, kefir e vegetais fermentados, podem contribuir para a diversidade microbiana — especialmente quando associados a uma dieta rica em fibras prebióticas, que servem de substrato para as bactérias benéficas (Sociedade Brasileira de Diabetes, 2023).
Manter o intestino saudável é também favorecer o controle da glicemia, reduzir inflamações e melhorar o bem-estar geral. A ciência caminha para uma nutrição cada vez mais personalizada e integrativa, em que o microbioma tem papel central no manejo de doenças metabólicas.
Conclusão
O estudo de Sariyanti et al. (2025) reforça uma visão moderna e promissora: o intestino é um órgão ativo na regulação metabólica, e seu equilíbrio pode ser decisivo na prevenção e no controle do diabetes. Embora ainda sejam necessários mais estudos clínicos, o Lactiplantibacillus plantarum representa uma nova fronteira para a nutrição aplicada à saúde metabólica.
Cuidar da microbiota é cuidar do metabolismo — e cada refeição equilibrada é um passo em direção a uma vida mais saudável e consciente.
Por Walkíria da Cruz Vieira Soares – Nutricionista, especialista em diabetes e amante de educação.
Referências
AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Standards of Medical Care in Diabetes – 2024. Diabetes Care, v.47, suppl.1, 2024.
KIM, S. H. et al. Gut microbiota modulation and anti-inflammatory properties of Lactiplantibacillus plantarum in metabolic disorders. Journal of Functional Foods, v.105, p.105278, 2023.
LI, X. et al. Lactiplantibacillus plantarum alleviates insulin resistance via PI3K/AKT modulation in type 2 diabetes mice models. Metabolic Research, v.189, p.102567, 2023.
MARTINS, T. C. et al. Human trials with Lactiplantibacillus plantarum: strain-specific outcomes in metabolic control. Clinical Nutrition Research, v.43, n.2, p.141–152, 2024.
NGUYEN, T. H. et al. Inhibitory effects of Lactiplantibacillus plantarum metabolites on α-glucosidase and α-amylase activities. Food Chemistry Advances, v.9, p.108423, 2022.
SARIYANTI, M. et al. Lactiplantibacillus plantarum as an antidiabetic probiotic. Food Bioscience, v.59, 2025. DOI: 10.1016/j.fbio.2025.104982.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2023–2024. São Paulo: SBD, 2023.
ZHANG, L. et al. Antioxidant and anti-inflammatory mechanisms of Lactiplantibacillus plantarum in metabolic disorders. Nutrients, v.15, n.4, p.845, 2023.
ZHOU, C. et al. Safety and probiotic potential of Lactiplantibacillus plantarum in food fermentation. Frontiers in Microbiology, v.15, p.102119, 2024.
